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“Na construção em Portugal, temos uma ligação afetiva e emocional com a cerâmica”

Atualizado: 26 de nov. de 2022

Entrevista à ceramista Maria Ana Vasco Costa


“O lugar dá muitas pistas, nas quais me inspiro para fazer cada projeto específico. O lugar, o projeto, a relação com o arquiteto, o diálogo, a descoberta de uma coisa em conjunto…





Hoje damos a conhecer a colaboração entre a artista ceramista Maria Ana Vasco Costa e o nosso atelier. Um novo projeto que, ao longo de dois anos, representou uma colaboração próxima entre ambos, e que terminou com um resultado final representativo do respeito da amizade entre a artista e o atelier, assim como da qualidade de ambos.


Maria Ana Vasco Costa estudou arquitetura e começou o seu percurso profissional na área em Londres, onde começou a trabalhar. A cerâmica surgiu mais tarde, já de regresso a terras lusas, altura em que procurava novas áreas de interesse. “Fiz várias pesquisas e workshops, tudo a ver com artes e a criatividade. Foi aí que descobri a cerâmica e percebi que era a paixão da minha vida. Senti mesmo no corpo e tudo fazia sentido para mim.” conta-nos a artista.


“Há uma parte muito desafiante, que é o idealizarmos algo que pode ser difícil de concretizar. Há uma fase de procura grande e as coisas demoram tempo a ser executadas e a amadurecer."

Foi nessa altura que tomou a decisão de mudar de profissão e aprofundar as técnicas da cerâmica. Fez o curso de cerâmica de autor do Arco, onde aprendeu as diferentes técnicas e onde desenvolveu a sua própria autoria. “O azulejo e a cerâmica fazem parte da nossa tradição e da nossa identidade. Ao crescermos com isso, temos uma ligação afetiva e emocional com ambos.”


Desde então tem vindo a trabalhar em diferentes projetos, dando asas à criatividade. “No processo criativo gosto bastante da limitação do lugar” começa por explicar Maria Ana. “O lugar dá muitas pistas, nas quais me inspiro para fazer cada projeto específico. O lugar, o projeto, a relação com o arquiteto, o diálogo, a descoberta de uma coisa em conjunto… tudo me dá muitas pistas do que eu acho que pode ser feito em determinado edifício, parede ou lugar.”


Mas há desafios concretos que variam. Aqui, a artista confessa que “há uma parte muito desafiante, que é o idealizarmos algo que pode ser difícil de concretizar. Há uma fase de procura grande e as coisas demoram tempo a ser executadas e a amadurecer. Só depois do amadurecimento é que gosto de mostrar ao cliente, ou seja, quando estou 100% convicta que é aquela ideia que deve seguir em frente e ser proposta.”


“Quando um projeto é desenvolvido por um artista e em complementaridade com a equipa de arquitetura, parece-me que temos uma mais valia. Dá outro sentido ao projeto, abrem-se diferentes caminhos"

Ultrapassado este primeiro desafio, vem o da produção e o de ver se o resultado final vai ao encontro das expectativas. “Estes momentos tornam também o processo criativo mais interessante. Ver a materialização do que tínhamos na cabeça e ver uma peça multiplicada para fazer superfícies, onde podemos descobrir novas formas do projeto.”


No caso concreto com o nosso atelier, a colaboração surgiu para um projeto específico, o de Algés, assim como de “uma amizade grande e de acompanhamento do trabalho de ambos desde há muito tempo. Foi um enorme desafio, porque de uma amizade grande surge um projeto, e há sempre alguma inquietação nesta relação nova.”


Mas de uma ligação de saberes e de artes, espera-se que o resultado seja melhorado pelos diferentes pontos de vista. “Quando um projeto é desenvolvido por um artista e em complementaridade com a equipa de arquitetura, parece-me que temos uma mais valia. Dá outro sentido ao projeto, abrem-se diferentes caminhos onde não há apenas aplicação de um revestimento, mas é um pensar sobre o lugar, a cor, os sentimentos que advêm da presença do material e da instalação.”


"Foi muito importante para mim, este projeto, porque foi a primeira vez que pus à prova este material e foi ótimo ter liberdade e confiança para explorar.”

Como ex-arquiteta, Maria Ana conta que às vezes pensa que a profissão tem muitos entraves e preocupações que podem fazer com que um arquiteto possa ter falta de liberdade para pensar mais abertamente num assunto específico. “O que acho que faço nos projetos é pensar constantemente e, com isso, trazer experiências diferentes e uma ligação com o projeto que nos revele coisas novas.”


Mas o resultado final fala por si e é representativo da boa relação que houve ao longo do seu desenvolvimento. “Desde a primeira reunião, em que delineamos onde iria ser a intervenção cerâmica, que houve um trabalho de construção mútuo. A ideia inicial era diferente e acabou por surgir o revestimento dos bancos das varandas. Foi neste momento que sugeri o revestimento cerâmico, que não fosse um azulejo. Foi muito importante para mim, este projeto, porque foi a primeira vez que pus à prova este material e foi ótimo ter liberdade e confiança para explorar.”





Como amigos houve mais momentos de debate de ideias diferentes, conta-nos a Maria Ana. Já no trabalho, o processo foi mais fluído e o caminho foi desenvolvido em conjunto. “Completamos as ideias uns dos outros e correu muito bem. Talvez pelo respeito que a amizade implica, estávamos atentos à sensibilidade de cada um.”


A colaboração resultou num projeto com um impacto e uma visibilidade diferente! Em breve, numa próxima publicação, mais informação sobre este projecto!



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