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Vasco Wemans

A Arquitetura para mim é identidade e memória

Updated: May 13, 2022

A arquitetura vai além do simples abrigo, pois se assim não fosse seria apenas construção. A arquitetura acrescenta a resposta a uma outra necessidade, essa sim, que já não se trata de uma questão corporal de abrigo, mas sem dúvida de uma questão central para o Ser Humano: a identidade.





Arquitetura, em primeiro lugar, trata-se de uma necessidade. Todos precisamos de abrigo mas, além desta necessidade, todos sonhamos com mais. Além da toca e do ninho, de que também precisamos enquanto seres e animais, há uma necessidade, especificamente humana, de abrigar também o espírito e o intelecto, num local que seja um espelho da nossa vida, do que fazemos e de como o fazemos.

Muito além da função base de abrigo pois, como dizia um antigo professor meu, até um bunker serve esse propósito, precisamos de luz, de temperatura, de conforto… A arquitetura nasce da combinação destas necessidades, para servir o propósito base da melhor forma possível, tirando o melhor partido de todos os fatores - localização, orientação solar, características dos materiais de construção e decoração - juntando a arte do desenho, do design e da visão do artista e profissional. Do arquiteto.

A arquitetura vai além do simples abrigo, pois se assim não fosse seria apenas construção. A arquitetura acrescenta a resposta a uma outra necessidade, essa sim, que já não se trata de uma questão corporal de abrigo, mas sem dúvida de uma questão central para o Ser Humano: a identidade.


Não podemos falar de identidade sem falar da memória, pois embora seja no presente que vivemos e no presente que agimos, aquilo que somos vai muito além. Há uma enorme contribuição dos sucessivos acontecimentos e ações do passado, que ajudam na construção da identidade do presente. A memória é, por isso, um fator essencial para a arquitetura pois, sem ela, não reconhecemos a nossa identidade, a nossa cultura, a nossa história e o nosso ser.

Assim podemos observar na história as diferentes arquiteturas dos vários tempos e lugares, cada uma com a sua identidade, marcada pelo tempo e pelo espaço em que se encontravam as pessoas que a construíram. Arquitetura é, portanto, aquilo que insere na construção a capacidade artística de integrar e incluir uma identidade. Todos os projetos são diferentes pelo seu tempo e espaço, com uma identidade que nos é passada nas entrelinhas da sua encomenda, que depois é plasmada nas paredes da casa.

Mesmo quando reconhecemos que há qualidades inegáveis numa obra, podemos sempre não nos identificar com ela e, por isso, podemos não querer habitá-la… Muito além da técnica, da mera construção, a arquitetura é captar uma identidade e traduzi-la em desenho e depois em espaço. Quanto mais identidade tiver um espaço, mais habitável se torna, mais nos sentimos acolhidos por ele.

Não podemos falar de identidade sem falar da memória, pois embora seja no presente que vivemos e no presente que agimos, aquilo que somos vai muito além. Há uma enorme contribuição dos sucessivos acontecimentos e ações do passado, que ajudam na construção da identidade do presente. A memória é, por isso, um fator essencial para a arquitetura pois, sem ela, não reconhecemos a nossa identidade, a nossa cultura, a nossa história e o nosso ser. A memória é a “guardiã” das identidades de que precisamos, para que os nossos projetos não sejam volumes vazios de significado e propósito.

Esta visão pode parecer redutora, de que arquitectura passa apenas pelo captar de uma identidade, através da memória de um lugar, de uma comunidade ou mesmo de um cliente específico e, depois de feito esse trabalho, basta traduzir em espaços, volumes, planos e aberturas… pode parecer limitador da criatividade, olhando para arquitetura de forma matemática.


Ultrapassando a mera funcionalidade do abrigo, construído com base na criatividade e desenhando com base na memória e no Ser, a arquitetura ganha um papel central na cultura dos povos, na identidade das pessoas e na imagem nacional.

Pelo contrário, uma vez que só agimos no presente e que este está em constante evolução e é sempre novo, temos que dar resposta a essa novidade. Quando já quase tudo está definido à partida, a criatividade ganha um papel mais exigente, mais estimulante e, acima de tudo, mais central.

Aqui chegados e olhando para esta forma muito característica da arquitetura, é incontornável falar do arquiteto Raul Lino, um estudioso da identidade portuguesa e da transposição da cultura, do passado e do presente para obra e para arte. Cresci a observar com fascínio três das mais importantes obras dele - a Casa do Cipreste, a Casa dos Penedos e a Casa Branca, nas Azenhas do Mar. Também podemos falar de Fernando Távora, que concilia, com muita mestria, a pureza das formas geométricas e contemporâneas com uma enorme atenção às tradições, costumes de cada lugar, com a sua identidade. Internacionalmente, vemos estas características nas obras de Frank Loyd Wright, por exemplo, em que um dos conceitos centrais na obra que nos deixou é que o projeto deve ser individual, de acordo com sua localização e finalidade.

Ultrapassando a mera funcionalidade do abrigo, construído com base na criatividade e desenhando com base na memória e no Ser, a arquitetura ganha um papel central na cultura dos povos, na identidade das pessoas e na imagem nacional.


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