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Cheias em Lisboa e a importância de políticas de urbanização

Uma vez que Lisboa foi sendo construída, ao longo dos anos, em cima de rios, sem um correto planeamento arquitetónico e urbanístico, estes cenários como os vistos na semana que passou, são inevitáveis.




Ao longo desta semana, voltamos a ver a cidade de Lisboa quase submersa pelas violentas chuvas e cheias um pouco por todos os bairros. Se é verdade que a Câmara Municipal de Lisboa já aprovou uma obra de fundo para o correto escoamento de águas, também o é que este é um tema que tem vindo a ser debatido há mais de 50 anos.


Foi no inverno de 1967, quando a cidade de Lisboa foi surpreendida com cheias devido à precipitação, que o Arquiteto Gonçalo Ribeiro Telles levantou o tema pela primeira vez, impondo-se publicamente contra as políticas de urbanização vigentes.


Nas primeiras eleições autárquicas após o 25 de Abril de 1974, Ribeiro Telles candidatou-se a Presidente da CML, com propostas várias que dizem respeito a este tema, como a limitação da construção em leito de cheias e em zonas ribeirinhas ou com nascentes de água, criação de zonas verdes e de corredores verdes, que deveriam existir para levar a água para o rio, sem provocar estragos em caso de chuva intensa. Nessa altura, não chegou a ser eleito.


Fazendo um salto para o presente, o atual Presidente da CML, Carlos Moedas, informou que “se os túneis de drenagem já existissem, as cheias não teriam acontecido”. Assim vemos a importância das políticas de urbanização e o impacto das mesmas na vida concreta das pessoas.


Uma vez que Lisboa foi sendo construída, ao longo dos anos, em cima de rios, sem um correto planeamento arquitetónico e urbanístico, estes cenários como os vistos na semana que passou, são inevitáveis. Alcântara era uma ribeira, a Avenida da Liberdade era uma ribeira, a Av. Almirante Reis também. A zona de Sete Rios, como o nome indica, era onde confluíam sete pequenos ribeiros. Ao longo dos anos, a cidade foi crescendo e raras foram as vezes em que foi estruturalmente pensado como ir buscar a água da chuva e lavá-la até ao rio, sem estas cheias.


Mas é já em março de 2023 que arrancam novas obras de drenagem em Lisboa. O plano prevê a construção de dois túneis com início exatamente nos dois pontos altos da cidade. O primeiro túnel, com 17 mil metros cúbicos de capacidade, servirá para escoar a água de Monsanto para Santa Apolónia. O segundo, entre Chelas e o Beato. “A água, quando chega a Monsanto, normalmente vai para Alcântara. Vamos conseguir que a água entre neste túnel”, indicou ao Expresso, Carlos Moedas.


O plano de 250 milhões de euros existe desde 2008, mas só agora é que começou a sair do papel. De acordo com a Câmara Municipal de Lisboa, o Plano Geral de Drenagem de Lisboa “prepara a cidade para os eventos extremos provocados pelas alterações climáticas”, reduzindo “significativamente as inundações e cheias e os consequentes custos sociais e económicos”. Mas só fica pronto em 2025.


Vemos assim a importância que um correto planeamento urbano e urbanístico tem na vida ativa de uma cidade e das pessoas que a habitam. Pensar os modos de vida e a sua atuação não é apenas trabalho do arquiteto numa habitação única, mas em todo o impacto geral. Lisboa é bom exemplo disso mesmo, da evolução necessária e dos perigos que existem quando obras estruturais são adiadas.

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